Ação do Gaeco e do BOPE usa métodos
de tortura em delegacia de Araucária
Por André Gutierrez, presidente do Sinclapol
De modo brusco, cruel e inconsiderado, o Gaeco e o BOPE usaram requintes e métodos de tortura, aplicados no período da Ditadura Militar no Brasil, contra os presos encarcerados na Delegacia de Polícia de Araucária, na última segunda-feira, dia 20. Além disso, com um contingente totalmente desproporcional ao gênero de diligência, os policiais (cerca de 30) invadiram as repartições da delegacia, sem respeito algum aos servidores e aos procedimentos legais de conduta e abordagem, tanto para os presos quanto para os funcionários.
Invasão - Ao cumprirem Mandado de Busca e Apreensão e de Prisão, os policiais civis do Gaeco, sob supervisão do delegado Adilson e o comando da tenente Débora do BOPE, fizeram buscas nas salas dos investigadores de polícia, assim como nas salas dos agentes dos DEPEM, onde arrombaram , desnecessariamente, armários e romperam cadeados. Logo depois, por volta das 8 horas da manhã do dia 20, de forma agressiva e desavisada, os policiais invadiram o interior da carceragem da delegacia, que abriga, hoje, 97 presos, num espaço com a capacidade estimada para apenas 23 pessoas. A ação surpreendeu os presos que ainda dormiam e foram retirados do interior da carceragem à base de chutes, pontapés e ataques com bastões.
Relato de um preso - À reportagem, relatou um dos presos que preferiu não se identificar: "Estávamos dormindo ainda quando eles (policiais) invadiram a carceragem gritando, nos chutando e mandando a gente sair da cela e seguir pelo corredor de saída (...) para piorar, eles colocaram água e sabão em pó no caminho do corredor para escorregarmos. Quando caíamos, eles aproveitavam para acertar chutes e bater com os bastões. Um dos presos levou um corte profundo no ombro e nas costas com mais de vinte pontos".
Onze presos, logo após a indecorosa ação do Gaeco e do BOPE, foram levados ao IML para exame de corpo de delito, onde foram constatados ferimentos, pancadas e cortes profundos, em praticamente todos eles.
Relatório comprova - O relatório circunstanciado do episódio revela e reforça que a conduta da operação e do mandato desconsiderou as normas e os procedimentos adequados de abordagem, "advertindo que o presente mandato deverá ser levado a efeito de maneira a não molestar as pessoas, mais do que indispensável ao êxito da diligência".
Não houve respeito algum durante a diligência, nem respeito ao delegado Fábio Amaro, que respondia pela delegacia naquele momento - que não estava no local, muito menos aos investigadores de polícia, que representavam, naquele momento, as autoridades legais responsáveis pela delegacia de Araucária.
Agressões desproporcionais - Segundo os detentos, conforme o relatório, enquanto a equipe do BOPE realizava a retirada dos custodiados do interior da carceragem, os mesmos eram violentamente agredidos, com chutes, socos e cacetadas para que saíssem rápido das celas e se dirigissem para fora da cadeia.
Ação esta, que resultou, explica o documento, em vários detentos lesionados, inclusive, em um deles resultou uma ferida contusa de aproximadamente 10 cm de extensão e 1 cm de profundidade, havendo a necessidade de tratamento médico.
Diz ainda o relatório que, após a saída do GAECO, foram contabilizados 11 detentos que apresentaram algum tipo de lesão, hematomase inchaços produzidos pela brutalidade empregada pelos policiais.
Truculência desnecessária - O documento salienta que não havia necessidade de tamanha truculência, "haja vista que os detentos se encontravam dormindo quando se iniciou a operação; não houve qualquer tipo de resistência, ou negativa dos mesmos em saírem das celas".
Depois do incidente,foi aberto o procedimento pelo escrivão de plantão e identificados os custodiados que alegam terem sido agredidos e imediatamente foram conduzidos ao P.S do NIS de Araucária, e posteriormente, ao IML, a fim de comprovar as lesões que alegam terem sofrido.
Procedimentos legais - Após a coleta de todos os depoimentos e testemunhos, um inquérito será aberto para investigar a conduta dos policiais do Gaeco e do BOPE durante à diligência. A Corregedoria da Polícia Civil, representantes da OAB e da Comissão de Direitos Humanos deverão avaliar o caso e cobrar as devidas providências contra as instituições que, segundo os relatos gerais, agiram com arbitrariedade ao aplicarem métodos de tortura usados durante a Ditadura Militar.
Responsabilidade - Dois pesos e duas medidas? Queremos a responsabilização das autoridades envolvidas na mesma proporção e rigor do caso Tayna, caso contrário se prova novamente que existem duas justiças - a do cidadão comum e a dos deuses do Gaeco.
Pedro Lichtnow
Assessoria de Imprensa
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