O velho padre havia trabalhado durante anos com o povo africano, mas agora estava de volta ao Brasil, doente e moribundo no hospital, e é notícia nos principais jornais da cidade. Já nos últimos suspiros, ele faz um sinal à enfermeira, que se aproxima.
- Sim, padre? - diz ela.
- Eu queria ver o governador e o deputado antes de morrer - sussurra o religioso - logo escrevendo, com letras trêmulas, os nomes das duas pessoas a quem pretendia receber.
- Acalme-se, verei o que posso fazer - respondeu a enfermeira.
De imediato, ela entra em contacto com as assessorias do Palácio e da Câmara e logo recebe a confirmação: ambos os políticos gostariam muito de visitar o padre moribundo.
A caminho do hospital, o governador diz ao parlamentar:
- Não sei porque é que esse velho padre nos quer ver, mas certamente isso vai ajudar a melhorar a nossa imagem perante a igreja e povo, o que é sempre bom, ainda mais que estamos em inicio de campanha para 2010.
O deputado concorda e informa que até convocara a imprensa para cobrir a visita.
Quando chegaram ao quarto, com repórteres, fotógrafos e cinegrafistas presentes, o velho padre pega nas mãos dos dois visitantes. Há um grande silêncio e nota-se um ar de pureza e serenidade no semblante do religioso.
O governador então pergunta:
- Padre, porque é que fomos nós os escolhidos, entre tantas pessoas, para estar ao seu lado no seu fim?
O velho padre, lentamente, diz:
- Sempre, em toda a minha vida, procurei ter Nosso Senhor Jesus Cristo como modelo.
- Amém - diz o governador.
- Amém - repete o deputado.
E o padre continua:
- Então... como Ele morreu entre dois ladrões, eu queria fazer o mesmo...
* * * * *
De um pós-aula de Direito Penal, em um curso preparatório ao ingresso à magistratura, quando o mestre - desembargador aposentado - discorre sobre a crise política brasileira.
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