Jornal O Repórter Regional

Jornal  O Repórter Regional

quarta-feira, 9 de junho de 2010

vale a pena ler



Preso, o juiz Lalau sempre deu mais trabalho do que solto. Volta e meia está se mudando de “apartamento”, ora divide uma cela com algum bacana, ora se instala em sua própria casa no Morumbi, por conta de uma “depressão”.

Engraçado. Quando assaltam os cofres da Viúva, os colarinhos brancos não se queixam de “euforia” ou excesso de entusiasmo. Apanhados, queixam-se, imediatamente, de “depressão”, cardiopatia grave e até aparecem amparados por algum “andador”, como se deixou fotografar o ex-governador Arruda.

Por não ter “acomodações próprias” para inquilinos ilustres, o país pensa numa reforma do Código de Processo Penal e na instituição de uma prisão “especial”. Nos Estados Unidos, o assunto está decidido há séculos. Todas as prisões são standards, dignas, mas espartanas.

Leona Helmsley, sonegadora de impostos, Bernard Madoff, investidor fraudulento, Tony Gebauer, banqueiro estelionatário - e mais vips americanos vestiram o macacão cor de cenoura dos “internos”.

Nem por isso despertaram a comiseração dos magistrados. Como o nosso inefável Paulo Maluf, preso com o filho durante dois meses. O então ministro do STF Carlos Velloso soltou-os porque “era muito triste ver pai e filho naquela situação”.

Afora o Brasil desigual dos criminosos do colarinho branco, há um país Dei delitti e delle penne desproporcionais, segundo a estratificação de classes. Há os criminosos “lombrosianos” e os “socialites”. No primeiro caso, revivemos os tempos medievais, anteriores a Cesare Beccaria - o jurista que, em 1774, protestou contra a tortura no cárcere e o caráter secreto dos processos. No outro, vivemos a impunidade dos abastados, com base na lógica, segundo a qual “quem tem não se mantém” (na cadeia).

No Brasil não há meio termo: ou o descamisado amarga prisão medieval e superlotada, ou o abastado pede “remoção pra casa”, porque está abalado com o próprio crime que cometeu.

Como estão para nascer presidentes ou governadores interessados em construir um sistema carcerário limpo e digno, a solução talvez esteja em “privatizar” a construção, gestão e administração dos presídios, como acontece em países do mundo civilizado. No Hemisfério Norte, o sistema já vigora, até com a operação de “navios-prisões”. No Brasil, contudo, dificilmente os “investidores” aplicariam seus recursos num sistema do qual, um dia, poderiam vir a se tornar hóspedes…

E navio-prisão, em Papagália, logo viraria um transatlântico, com Fernandinho Beira-Mar de comandante, cassino a bordo e concorridos shows de Roberto Carlos, com distribuição de rosas e tudo o mais, pois, no Brasil, tudo o que deveria ser, acaba não sendo.

Por via das dúvidas, os colarinhos engomados que lidam com dinheiro público e outras “tentações” fronteiriças do crime, bem que poderiam comprar celas especiais, refrigeradas e bem decoradas, just in case, isto é, para o caso do seu “negócio” acabar mal.

Não seria improvável um anúncio vazado nos seguintes termos: "Compre sua cela especial em módicas prestações mensais. Conforto garantido e financiamento sem fraudes. Amplas salas debruçadas para jardins arborizados e piscinas aquecidas; camas king size para visitas íntimas; dois quartos, um dos quais com suíte; armários personalizados, hidromassagem, home theatre e regime de aparthotel".

Garanta já sua cela vip antes que deputados e senadores comprem todas com o seu auxílio-moradia.
Por Sérgio da Costa Ramos,
escritor e colunista do Diário Catarinense

fonte Espaço Vital

Nenhum comentário: