"Carla" não nasceu Carla, mas sempre soube que era mulher, apesar do registro indicar “sexo masculino”. O último resquício que carrega da identidade que nunca assumiu é o pênis, que garante ser usado, de forma desconfortável, só para urinar. “Hoje está até atrofiado”, diz. Ela, há 13 anos, espera que o bisturi torne mais adequada a anatomia que reconhece como errada desde a maternidade.
A cada 16 dias, o procedimento cirúrgico tão aguardado por "Carla" é realizado em um paciente do Sistema Único de Saúde. A chamada cirurgia de mudança de sexo foi um dos últimos atos cirúrgicos reconhecidos pelo governo brasileiro e entrou para a lista de procedimentos gratuitos só em 2008.
De lá para cá, 57 cirurgias foram realizadas, sendo 10 no primeiro ano, 31 em 2009 e 16 até junho de 2010. A estatística é crescente, mas ainda irrisória perto da fila de espera formada por pessoas que, assim como Carla, sentem ter nascido no corpo errado. As informações são do jornal Correio do Povo de Alagoas.
O jornal explica que "eles não são travestis, homossexuais, drag queens ou transformistas; o nome é transexual, condição reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um transtorno de gênero".
A matéria complementa que "não há nenhuma doença psíquica associada e os que fazem parte deste grupo nascem com um órgão sexual que não condiz com a sua personalidade", explica o psiquiatra da PUC de São Paulo Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade, de Gênero e Orientação Sexual.
São “mulheres na alma” (dizem todas), mas que têm pênis. “Homens na cabeça” que nascem com vagina, tentam explicar assim. Desde que o mundo é mundo, eles tentam corrigir o equívoco de nascença com técnicas arriscadas, que envolvem automutilação, silicone industrial, hormônios proibidos e isolamento social.
Nas duas últimas décadas, a Medicina passou a prestar mais atenção aos pacientes com transtornos de gênero e a cirurgia de troca de sexo deixou de ser feita só na clandestinidade. Os estudos também evoluíram.Espaço Vital
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