Jornal O Repórter Regional

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Deputado bandido ameaça judiciário

Em 2009, Hildebrando Pascoal foi julgado e condenado por um dos crimes mais bárbaros da década de 90: a morte de Agilson Santos, o Baiano.

Segundo o MP, em julho de 1996, ele teve os olhos perfurados, braços, pernas e pênis amputados com o uso de uma motosserra.

Ele teria sido morto por não revelar o paradeiro de José Hugo Alves Júnior, suspeito de matar Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando.

Preso há 12 anos e condenado a mais de 110 anos de prisão, o ex-deputado federal e ex-coronel da Polícia Militar Hildebrando Pascoal - o "homem da motosserra" - driblou a vigilância da penitenciária de segurança máxima do Acre e enviou duas cartas de ameaça e extorsão a autoridades do Judiciário local.

Ele exige dinheiro e afirma ter fatos a revelar aos Conselhos Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério Público (CNMP). Os fatos foram revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo, em sua edição de domingo (26), na coluna Direto de Brasília, de João Bosco Rabello. As cartas integram um inquérito sigiloso em tramitação no Ministério Público do Acre.

Manuscritas e postadas no dia 23 de novembro de 2011 numa agência dos Correios em Rio Branco (AC), foram enviadas por Sedex à desembargadora Eva Evangelista, do TJ do Acre, e à procuradora de Justiça Vanda Milani Nogueira, ex-cunhada de Hildebrando.

Aos 60 anos, o homem que na década de 90 liderou o "esquadrão da morte" mostra-se ressentido e disposto a vingar-se de quem, segundo ele, o teria abandonado.

Na edição de hoje, o Estadão traz novos detalhes, em matéria assinada pela jornalista Andrea Jubbé Vianna.

Na carta enviada à procuradora, Hildebrando pede que ela lhe envie R$ 6 mil "para me manter e manter minha família". E prossegue: "Caso não me atenda, tenha a gentileza de encaminhar esta carta para os órgãos competentes, pois caso contrário eu a encaminharei e apresentarei esclarecimentos provando os fatos".

O Ministério Público atribui as ameaças e tentativa de extorsão à cassação da patente de coronel da PM, decretada em 2005, mas que se efetivou no ano passado, com o trânsito em julgado da decisão.

O ex-deputado explicita esse ressentimento na carta: "Você (Vanda) conseguiu com sua turma tirar a minha patente e o meu salário, posição que conquistei, com honra".

Eva foi a juíza-revisora do processo de cassação da patente. "É claro que me senti constrangida. Em 36 anos de magistratura, nunca fui ameaçada", disse a desembrgadora ao Estado. Ela encaminhou a carta ao Ministério Público e ao presidente do TJ-AC, pedindo reforço na ronda feita em sua residência.
Na carta enviada a Eva, o preso diz que a única arma que possui no momento é uma "caneta" e avisa que pretende usá-la.

Na mesma carta, afirma que teria presenciado Vanda entregar a Eva o gabarito das provas do concurso para o MP em que uma familiar dela teria sido aprovada.

Coordenador do grupo de combate ao crime organizado, o procurador de Justiça Sammy Barbosa considera uma “afronta” as ameaças e a falha de segurança, sobretudo diante da alta periculosidade do preso.

“Ele é um caso único no Brasil. Colocou um Estado inteiro de joelhos”, resume. Barbosa não esconde a preocupação com a possível migração da pena de Hildebrando para o regime semiaberto, prevista para 2014. Mas essa previsão pode ser adiada com o julgamento do assassinato de José Hugo, ligado a Baiano, e suspeito da morte do irmão de Hildebrando.

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