Jornal O Repórter Regional

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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os deveres dos nubentes

Gerson Kauer

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A juíza recém empossada dá uma escapada da sala de audiências -
cheia de gente - e vai a uma saleta ao lado para celebrar a cerimônia
civil de um casamento. Ela está a suprir a inexistência, na comarca, de
 tabelião e de juiz de paz.
Estão presentes apenas os familiares, todos gente simples.
Inicialmente a magistrada tergiversa sobre a importância do matrimônio,
dirigindo-se a um casal, de meia idade, que está de pé à sua frente,
de mãos dadas.
Pouco depois, o servidor cartorário gesticula discretamente.
A jovem magistrada faz um sinal indicando que ele esperasse.
 E continua a oratória, enumerando os deveres dos cônjuges.
No final, pontifica, dirigindo-se ao noivo:
- Senhor João Francisco, aceita casar com a senhora 
Maria Jaguaribe?
O homem apenas olha para a juíza. Imaginando que o noivo estivesse
 nervoso, ela repete com voz mais impositiva:
Senhor João Francisco, aceita casar com a senhora Maria?
O noivo permanece silente. Apenas olha em torno. A mulher também
nada diz.
E a magistrada se intriga cada vez mais. Nisso, o servidor recomeça
a gesticulação, como a insistir em uma brecha para falar.
A juíza ignora a conjunção e repete:
Senhor João Francisco da Silva, me responda se aceita ou 
não casar hoje. Há algum problema?
O nubente parece contrariado, sem nada dizer. A noiva, quietíssima.
Ambos apenas balbuciam algo ininteligível, enquanto olham em
direção ao serventuário, que novamente pede um aparte.
O que é desta vez, senhor escrivão?
- Doutora, me desculpe. É que a senhora não me deu tempo para
 lhe informar que os noivos são surdos-mudos!O Romance Forense
de hoje foi adaptado a partir de um relato feito no blog do juiz estadual (RN)
 Rosivaldo Toscano Júnior.

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