Aos 62 anos de idade, João Batista Beltrame, o Joba, é um personagem
folclórico da cidade. Discípulo do Padre Quevedo, já tentou influenciar as
plantas com o poder da mente e se meteu em aventuras missionárias no Amazonas,
desenvolvendo projetos com índios apurinãs e jamamadis.
Formado em Filosofia, Pedagogia, História e Teologia, Joba atualmente é
professor do Unicesumar e, paralelamente às aulas, dedica parte de sua rotina à
construção de uma carreira política e ainda arranja tempo para as gravações e
composições do grupo Terra Vermelha, que vem chamando a atenção no YouTube com
vídeos amadores ilustrando canções que exaltam as belezas das cidades da
região, como Sarandi, Astorga e Paiçandu. "Eu digo: 'I love you' / Eu
grito: 'I love you" / Eu canto: 'I love you' para Paiçandu", diz o
refrão de uma das músicas.
Em entrevista ao Diário, Joba anuncia dois álbuns para o próximo ano, elogia
Bob Dylan ("é meu filósofo predileto") e encerra o debate sobre a
autoria dos solos flamencos da canção "Rio Pirapó". Descubra na
entrevista abaixo:
Como surgiu a ideia de cantar músicas sobre as cidades do Paraná?
Tudo isso começou com uma ideia meio louca, há 12 anos. Gravei uma música em
homenagem a Maringá e fez um baita sucesso. Cheguei a mandar, na época, mais de
600 DVDs com essa música para o exterior.
De lá para cá, fizemos músicas sobre a Helena Kolody, o (Paulo) Leminski e
denunciamos a situação do rio Pirapó. Há, ainda, uma música sobre a ilha do
Mel, que, mesmo sendo desvalorizada por boa parte dos paranaenses, é a coisa
mais bonita que há no País. Compusemos um musical sobre a revolta dos posseiros
no Sudoeste, que aconteceu nos anos 50. Tem muita coisa mesmo. Essa é a nossa
proposta paranista: homenagear as nossas cidades, rios, poetas.
Há planos para um show ou um CD?
Queremos lançar um CD no ano que vem. Aí, vamos jogar pesado. Com site e vídeos
novos. Para tocar, a gente nem cobra cachê, só uma pequena estrutura, sem
exigências extravagantes. Mas, por enquanto, não há shows agendados.
Quais suas influências musicais?
Eu sou roqueiro, bicho. Minha essência é Beatles e Bob Dylan, que é meu
filósofo predileto. Gosto de Raul (Seixas) e da MPB do Zé Geraldo, Belchior,
(Geraldo) Vandré. Sou dessa linha latino-americana de protesto, do Víctor Jara,
Mercedes Sosa. Só não gosto muito do Chico Buarque. Essa coisa da bossa nova
não é muito a minha praia. E, claro, tem a raiz sertaneja: escutei muito Tonico
& Tinoco, as guarânias e coisas mais regionais.
Você se acha um bom cantor?
Ah, eu acho que sim. Sou diferente. Com violão na mão, consigo emocionar o público.
Você já cantou músicas sobre Maringá, o rio Pirapó, Paiçandu, Sarandi.
Já pensou em algo para Rolândia?
Lá tem toda a influência alemã... Não pensei sobre isso, mas acho que seria
fácil emocionar as pessoas cantando sobre Rolândia. Aliás, há alguns dias um
amigo perguntou a mesma coisa. Acho que todos estão interessados em que eu
cante algo sobre Rolândia.
Quais serão suas próximas músicas?
Na próxima semana já vamos gravar a música sobre Cambé. Depois, uma outra
falando sobre 30 cidades aqui do estado. Ainda precisamos, também, compor sobre
as grandes cidades paranaenses.
Além do CD reunindo as canções paranistas, pensa em algum outro projeto
musical, quem sabe um álbum solo?
Claro! Estou preparando um CD, para o próximo ano, que a molecada vai gostar:
só de rock. Já tenho cinco músicas prontas, todas com arranjos meus. Fiz uma
música em homenagem aos ícones do rock que morreram aos 27 anos, como o (Kurt)
Cobain, a Amy (Winehouse), a Janis (Joplin). Falta gravar mais cinco canções.
Estou trabalhando nesse álbum desde 2011 e, ao meu lado, terei os melhores
instrumentistas da região.
"Minha influência é Beatles e Bob Dylan", acredita Joba
A canção "Rio Pirapó" tem um arranjo meio flamenco do violão.
O jornalista e escritor André Simões chegou a polemizar a questão desse
arranjo, defendendo que seria, de fato, o próprio Paco de Lucía executando os
solos flamencos, em alguma gravação inédita, desconhecida do grande público.
Abra o jogo, Joba: os solos foram executados pelo Paco de Lucía?
(risos) Olha, que coisa! Imagine só? Um solo de Paco de Lucía? (risos) E sabe
que seu amigo não exagerou?! A gente bota mesmo os melhores para tocar. Como
baixista, não tem ninguém melhor que o Paulo Machado. O Jimmy Oliveira é um
baita guitarrista: não é a toa que ele toca no DVD "40 Anos de Chitãozinho
& Xororó". O Júlio, que tocou no Herança e agora está com o Daniel, é
o maior gaiteiro que há.
É verdade que você participou do 1º Curso Superior de Parapsicologia no
Centro Latino-Americano de Parapsicologia, ministrado pelo Padre Quevedo?
Sim, é verdade. Fui discípulo do Padre Quevedo. Durante uma época de minha
vida, passava todas as férias com ele. Agora, ele já está velhinho, perdeu o
pique. Mas ainda tem aquele brilho nos olhos. A pesquisa cerebral e mental é
mesmo um assunto muito importante. Fui o primeiro a utilizar testes com as
cartas zener aqui na região. Até fiz experiências com sementes de centeio para
notar se era possível influenciar as plantas mentalmente. Ainda hoje leio sobre
o tema. Fiz um pouco de tudo nessa vida. Estive até no Amazonas, onde
desenvolvi projetos missionários com índios apurinãs e jamamadis.
Com toda essa trajetória "exótica" você se considera uma
figura folclórica de Maringá?
Eu não sei se sou folclórico. Sou apaixonado pela vida e pelas pessoas, sabe?
Sou extremamente otimista em relação ao ser humano. Sou isso daí que você está
vendo: um sujeito sem máscaras.
Você ainda cumprimenta as pessoas no meio da rua com um cordial e
inusitado "parabéns"?
Eu dizia "parabéns" às pessoas que encontrava nas ruas. Era uma forma
de parabenizá-las pela existência, parabenizá-las por tudo. Mas já não faço
isso com tanta frequência (risos). Teve um dia que encontrei uma pessoa, abri o
sorriso e estendi a mão, dizendo o meu "parabéns". Só que essa pessoa
tinha ido a um velório, há dois ou três dias antes. Foi um mal-estar
desgraçado. Para piorar, ainda tinha um monte de gente junto vendo aquela cena
(risos).