Jornal O Repórter Regional

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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Meu cliente é um canalha! Não! Meu cliente é um santo!"

Charge de Gerson Kauer

Muite legal!
No Tribunal do Júri, penúltima década do século passado, o réu responde pela autoria do assassinato da esposa. A acusação consegue demonstrar os principais itens da tese que pede a condenação do acusado.

Mas a plateia - e certamente os jurados também - aguardam a manifestação do defensor contratado, criminalista muito conhecido na comarca e na região.

A sessão é interrompida para o almoço, durante o qual o advogado de defesa ultrapassa a Lei Seca. Retomados os trabalhos, o advogado boceja enquanto revisa, com gestos rápidos e nervosos, algumas anotações pessoais, feitas em desorganizados papeluchos. E com um lenço seca o suor que escorre por sua testa, na tarde modorrenta que fica mais pesada pela inexistência de ar condicionado no salão do júri.

- O procurador do réu está com a palavra - afirma o juiz.

- Obrigado, Excelência. Cumprimentando os jurados e os aqui presentes, inicio dizendo que nada do que até aqui escutaram é verdade. Esse réu é um canalha, um facínora!

O dedo indicador apontado pelo advogado de defesa agrava o comentário. Segue-se um momento de profundo silêncio. Todos entreolham-se, sem compreender o que acontece.

Imediatamente, um servidor, ordenado pelo juiz, chega ao pé do ouvido do advogado e lhe diz:

- Doutor, não se engane! O senhor é o defensor do réu...

- Ah, sim, obrigado, meu rapaz - fala o advogado, cabeça balançando.

Ouvem-se risos tímidos pela sala.

- Pois, bem, senhores - gagueja o advogado. Vamos retomar. Eu disse que esse homem aí sentado é um canalha, mas isso eu apenas seguiria dizendo, como a acusação gostaria de ter dito expressamente e não teve habilidade para tanto, se eu não conhecesse os detalhes dos autos...

Segue-se novo silêncio. O advogado mais uma vez consulta suas anotações e retorna a falar.

- Na verdade, senhores, esse homem é um santo! Agüentou calado por anos aquela víbora, aquela percanta, cujos adjetivos eram tão feios que, por conta do pudor, ora me inibo em dizê-los.

E segue assim a fazer uma calorosa e emocionada defesa, com entonações de novela mexicana.

Apesar de seus esforços, o cliente é condenado. Na semana seguinte a procuração é revogada e uma representação por desídia profissional bate na OAB.fonte Espaço Vital

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